31 de outubro de 2013

Anarquistas dos Sentidos

Ilustração Maria Tereza Penna
Desenho : Aquarela com caneta digital

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental".
O mago do Sentimento do Mundo só podia ter nascido em 31 de outubro. O dia dos BRUXOS.


AS BRUXAS
Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto,
estou sozinho na América.
Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
anunciou vida ao meu lado.
Certo não é vida humana,
mas é vida. E sinto a bruxa
presa na zona de luz.
De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto…
Precisava de um amigo,
desses calados, distantes,
que lêem verso de Horácio
mas secretamente influem
na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
e a essa hora tardia
como procurar amigo?
E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
que entrasse neste minuto,
recebesse este carinho,
salvasse do aniquilamento
um minuto e um carinho loucos
que tenho para oferecer.
Em dois milhões de habitantes,
quantas mulheres prováveis
interrogam-se no espelho
medindo o tempo perdido
até que venha a manhã
trazer leite, jornal e clama.
Porém a essa hora vazia
como descobrir mulher?
Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras.
Mas se tento comunicar-me
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.
Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
querendo romper a noite
não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
exalando-se de um homem.
Viva o Halloween dos Anarquistas dos Sentidos!


Trabalho em arte digital em cima do desenho
Maria Tereza Penna


2 comentários:

Sylvio Mário Bazote disse...

Drummond e Quintana são magos das palavras! Com suas canetas mágicas, enfeitiçam nossa mente!

Unknown disse...

Que dizer de Drumond? Digo em piesia!

Vasto mundo

Mundo , vasto mundo...
Mundão!
O mundo sem Drummond
Seria apenas um mundinho qualquer.
O mundo com Drummond
Vasto se fez,
Na sua imensidão.
José Ganhou poemas,
Tamanha a interrogação.
E agora José?
Nos leva a reflexão.
Não fosse Drummond
Em tanta vastidão,
José seria um desvalido.
Ninguém daria atenção.
Viva Drummond!
eternizando em nós o refrão,
E agora José?
Em um mundo perdido
Resta-nos conviver com a interrogação.
Afirmar não podemos,
Nem cabe interjeição.
sem porta,
Perdeu-se José em meio a multidão.
E agora voce?
A.P

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