3 de maio de 2016

Eu Não Sou A Minha Avó.

Você não vai acreditar no que esses bebês fizeram. :o
Publicado por Viralizando na NET em Segunda, 7 de março de 2016
Aldeia Global - Solução a curto prazo
A Espaços e ocupações sustentáveis
A Verdade nasce na Inocência
Até os Bebês preservam espaços. Ocupam, compartilham, brincam, mas trazem consigo um lugar onde regressar para um sono tranquilo. Sonhar e acordar.

Eu tinha 8 anos, quando crianças batiam a nossa porta pedindo algo para comer, minha avó convidava a entrar e sentar a nossa mesa.
Todo dia batiam a nossa porta. Os mesmos rostos afrodescendentes. Pupilas negras rodeadas por brancos de brilhos saltantes.
Comiam com a colher empurrada pela pulso.
Minha avó cozinhava muito bem e delirava quando não deixávamos nada no prato. Era a recompensa e parece e que essas crianças que chegavam era o prato feito de minha avó.
Mas quando voltavam insistentes, eu me aborrecia. Não queria almoçar ao lado de estranhos todos os dias. Não me sentia confortável. Uma vez ela chegou a colocar uma menina quase da minha idade dividindo meu quarto. Eu me exaltei por dentro. Não queria parecer egoísta, mas aquilo estava se tornando insustentável para mim. Não suportava dividir meu canto e a atenção de minha avó.
Não sentia mais fome...
Não gostava mais da comida da minha avó.
Meu avô também achava exagerada a atitude dela. Porém não fazia objeção. A atitude, já estava se tornando inconveniente para nossos olhos, ou melhor, nossas bocas. e olhos.
Dessa vez ela passara dos limites. Meu quarto! Meu quarto que era só meu! Onde eu lia Monteiro Lobato, Amava Tia Anastácia que criava vida com suas negras mãos, mas estava começando a me sentir invadida, Minha avó estava implantando uma revolução dentro da própria casa. Eu estava Revoltada! Como ela pudera fazer isso comigo? Ela deitava todas as noites na minha cama. Me fazia adormecer com suas histórias de sonhos particulares que dividia comigo e não mais compartilhava. Ao contrário: Eu partira e repartira meu quarto com outra criança da mesma idade. De imagem oposta a minha! Eu me senti preterida. Minha avó não gostava da minha aparência? Ela gostaria de ter outra neta? Ela queria contar histórias para outra menina? O que ela queria me dizer? Ou apenas se manifestava sem qualquer pretensão?
Ainda bem que a mãe da menina veio buscá-la antes que eu parasse de comer definitivamente.
Depois de casada, esperando um filho, bateram à minha porta. Abri aquela portinha  acima e vi um jovem de cor parda, pedindo dinheiro para comida. A cor sempre me vem a mente. A cor sempre se faz relevante quando não se vê jovens brancos pedindo comida. Nunca bateram à porta para pedir auxílios. Ou eram madres, freiras, ou pessoas ligadas à entidades beneficentes. Estava sozinha e com uma barriga enorme,  Abri minha bolsa e vi que não tinha quase nada lá. Peguei tudo e entreguei ao pedinte. Ele raivoso, esmagou a "esmola" e jogou basculante adentro e me fitou arrogante. Senti medo e alívio por não ter aberto a minha porta. Fechei o basculante, diante do rapaz, com receio que ele colocasse o braço para dentro e abrisse. a tranca. Percebi que a idade é fator para que portas sejam abertas. Percebi a vulnerabilidade de estar por vezes sozinha .Aprendi que nem todos recebem por sentir fome e que outros não querem aplacar a fome. Alguns querem ofender e machucar. Que nem todo o dinheiro do mundo irá satisfazê-los. pois a falta de oportunidade os tornou cruéis. Pessoas pedem ajuda para recomeçarem, para continuarem sua caminhada. A vida vai ensinando. Os tempos são outros, ou as pessoas mudaram. Ou sempre foram assim...
Eu sou diferente da minha avó. Eu gostaria de poder fazer coisas para inserir pessoas na comunidade em que vivem, mas não desejo abrir minhas portas particulares e colocar pessoas adentro.
Creio que o respeito e a justiça iguala a todos. Que a injustiça é a mãe do preconceito e da discriminação. Nós somos vítimas de nós mesmos.
Minha avó se chamava Alice. "Significado de Alice
Significa “de qualidade nobre”, “de linhagem nobre”.
Tem origem nas versões francesas Adaliz, Alesia, Aliz, utilizadas como diminutivo de Adelaide , que tem origem no germânico Adelheid, composto pelos elementos adal, que quer dizer “nobre” e haidu, que significa “espécie, tipo, qualidade”.
O nome Alice se tornou muito popular na Inglaterra e na França por volta do século XII, sob as formas de Alesia e Alicia.
Fonte: Dicionário de Nomes Próprios" http://www.significados.com.br/?s=Alice .
Cada um é especial à sua maneira.
Eu posso sair, doar ou vender meu tempo, repartir coisas e manifestar afeto, mas preciso de um lugar para retornar à minha solidão ou vivência. Necessito da solidão para conviver e compartilhar... Mesmo que rodeada de pessoas e compartilhando meu quarto eu preciso saber que meu espaço existe. E que faço parte de algo maior e mais justo. Eu não sou minha avó!


Onde come um, comem dois. Acredito nisso, mas cada um deles tem seu refugio para dormir. Isso deve ser a expressão: SE sentir em Casa. Estou de volta para meu aconchego...
Acabo de encontrar a meia que não estava no varal quando recolhi a roupa. A meia estava limpa. Roupa suja lavada. Me parece que estavam brincando com a peça, ou o vento a acomodou ali.

Um comentário:

Sylvio Mário Bazote disse...

É um privilégio termos um lugar no mundo para encontrarmos nosso mundo!
Aproveite-o e aproveite-se. Refugie em si e de si conforme sua vontade e necessidade.
"Viva até doer!" (Desenho Kick Buttowski)

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