13 de dezembro de 2015

Rakher Upabas

Sem sono.
Pensando sobre os ciclos, a evolução ou regressão.
Tentando não qualificar ou mensurar, apenas refletir.
Vendo um êxodo de pessoas em busca de condições melhores, ou apenas de futuro.
Para uma alguém urbano e uma pessoa rústica ou campesina que nunca experimentou mudanças radicais ou adversidades é pouco provável que entenda o que é escolher onde viver ou se encantar por um local e decidir construir algo mais que abrigos de concreto.
Quando dormi pela primeira vez no "sítio", o som forte do "silêncio" assustou meu ouvidos. Uma folha que se movia no chão, arranhava minha segurança. O rumor de sonidos animais era aterrador e sufocante. Mas ao primeiro raio da manhã, quando abri a porta da cozinha, o cheiro, as cores o farfalhar de galhos convergentes, penetraram sem pedir licença em minha lucidez, causando uma avaria de sentidos.
Eu que sempre tivera como tutela, paredes neutras, estava escandalizada com aquela profusão de tons e timbres que se ofereciam  disputando espaços e vezes no discernimento.
Era tudo novo e reluzente. Sim, refletiam a luz que chegava sem que tivesse tempo para identifica-las e percebê-las em total nitidez.
Pareciam em tempo desfocadas ora extremamente hiper-reais.
Tudo aquilo era novo e inédito para mim.
Era como um encantamento que me transportava a outra dimensão. Uma atmosfera densa e pacífica que envolvia meu corpo como um manto que agasalha.
Meu peito se encheu de uma espécie de líquido rarefeito... Pulmões e guelras se revezavam para suprir e sustentar.
Eu vi hoje, algo que explica o que ando produzindo com mãos, braços, pernas e pés...
Ando fazendo sem folgas, isenta de me posicionar ou sobrepor. Apenas me deixando conduzir por caminhos, vielas, veias e rios.
Não sei onde desembocar.
Mas a imagem, que hoje vi, norteou e me levou a algo que já conhecia. Uma sensação de primeira vez, de raridade e singularidade. Como um renascimento já vivido, porém original.
Uma saída de útero presa ao umbilical.
Eu voltei à porta da cozinha. Estava ali parada novamente. Um regate atemporal e surpreendentemente contemporâneo que me arrastava pela memória e estabelecia onde e como meus olhos enxergavam momentos já frequentados e  existidos.
Eu mudara...
Enquanto o momento permanecia, eu o reconhecia diferente. Ele não perpetuara... Meu olhar transformava o momento toda vez que o focava.
Lembro-me do preceito: Um simples olhar muda o fato.
Eu, transmutada através das emoções que não sobrevivem ao instante, me conformo com minhas limitações de não poder reter o tempo na mente. Apenas viver um instante por vez. Saber que a vida não estaciona. Ela insiste em avançar num renovar constante. E cada vez que olhar para trás, prossigo em frente.
Queria ter olhos de peixe!

PS: Continua....

Acrílico sobre tela - Maria Tereza Penna

Plantas Aquáticas - Maria Tereza Penna

Acrílico sobre tela - Maria Tereza Penna

Acrílico sobre tela Maria Tereza Penna




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