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10 de agosto de 2010

Revelada em Branco & Preto


Eu estava mais para CARMEN. Queria VERMELHO, bem sensual, mas meus pais não permitiram. Então negociei: Visto BRANCO, desde que me deixem desenhar o vestido. Eu gostava de rabiscar figurinos e fora eu quem esboçara a maioria dos vestidos de formatura de minhas colegas!
Não sabia ao certo ainda, mas tinha pretenções a buscar. Não queria nada do que se  usava na época. Estávamos em 77, e para falar a verdade, não gosto muito de modismos. Não queria mangas bufantes, carreira de botões, rendas, bordados, vidrilhos, nada disso!
Na época estava na moda vestidos à La Juliette du Roméo, bem estilo princesinha, marcados logo abaixo dos seios, bordados no decote e soltos. Não queria aquilo também! Já que não podia ser "Carmen", que tal uma uma Bela Adormecida? Hunn!..... Também não! Mini- Saia? Não era tão rebelde assim... Então decidi que queria voar... Completava 21 anos naquele dia estava para me tornar senhora do meu nariz e ao mesmo tempo me entregando num enorme dilema, estava me casando e ainda por cima no meu Aniversário. Praga do meu Pai! Ele dizia, Filha minha só sai de casa após os 21 anos e de preferência CASADA!
Meu dentista também dizia: "Mulher até aos 22 anos é procurada, depois começa a procurar!
Aquilo me fazia sentir um misto de raiva e desprezo pelas idéias por ele apregoadas! 
E eu dizia para mim mesma: Nunca me casarei... Nunca! Eu já trabalhava há mais de dois anos em uma Agência de Publicidade! Queria a independência, a aventura, estudar, viajar e lá estava Eu no dia do Meu aniversário, entrando na Igreja.
Havia marcado para Quarta-Feira, às 19:00h, que era para não ir muita gente... Muitas colegas e muitos familiares.
Mas havia algo de importante que esquecera: eu transitava livremente entre as "Caxionas" e as "Revolucionárias" que ficavam cativas nas carteiras de trás.
Fazia cenários para apresentar as obras de autores famosos. Nunca me esqueci de "Espumas Flutuantes" de Castro Alves, ou "A vida em Flor de Dona Beija". Fazia os "Panos de fundo" e ainda atuava.
Pois então? Estavam todas lá, até a mais irredutível de todas que lembro bem se aproximou e disse com um leve sorriso maroto: Vim ver para Crer! A Igreja estava lotada. Eu morta de cansada, ali, a caminho do altar e escutava entre os acordes que ressoavam, a voz do meu pai que afirmava: Só sai Casada!... Meu pai está muito feliz pensei, mas, de repente ele se vira para mim, parecendo um ventríloco e fala: "Se desejar retornar ainda dá tempo, não se apresse!! Se quiser desitir, ou não for realmente seu desejo... Dê um passo para tras!"
Eu me assustei e olhei com uma nesgada d´olhos ou melhor com um rabo de olho, para ninguém perceber e me aventurei numa boca rasgada para a sua direção, apertei sua mão e murmurei: Quieto!
Fui em direção ao altar, mas o padre que havia me batizado, não ligou muito, e me casou em 15 minutos... Decoração, aquele trabalho todo para durar 15 minutos. Creio que foi a cerimônia que deixou os convivas mais felizes e descansados. Poucos dias antes o Presbítero havia me perguntado se eu era católica fervorosa, e praticante, e eu olhando-o fixamente nos olhos disparei: Não! Não sou! Não vou a igreja todos os domingos e me comungo raramente!
Foi a gota d'água para que ele fizesse aquela truculência. Já estou acostumada a sofrer retaliações por dizer a verdade!
Acabada a cerimônia, eu e meu noivo, nos beijamos e viramos para os convidados... A igreja estava lotada.
Muitos jovens e amigos além de toda a parentada! Todos me olhavam e eu pensava... Será que é real mesmo?
O som dos pianos misturavam-se com o tititi dos presentes e eu seguia como se estivesse em outra dimensão a passos lentos em direção a saída!
Chegando a porta todos vieram me dar os parabéns demonstrando carinho e afeto e algumas pontadas visíveis de inveja!
Estávamos no final dos anos 70, vivendo sob intensa pressão política e idéias fervilhantes... Vi um ex-namorado com cara de desolado do lado esquerdo e do outro, não posso dizer namorado, mas que reprensentava algo para mim e vinha ao meu encontro com sua máquina fotográfica.... Nos entreolhamos e eu sai para o jardim correndo e dançando totalmente descontraída e me sentindo solta e livre...!!
Estava realmente voando! Meu vestido era uma espécie de vassoura ou pó de Pirlim Pim Pim.
Nunca mais vi o fotógrafo, nem o paquera, que gentilmente mandou que me entregassem as fotos!
Lógico que tenho tudo, todas as fotos que foram tiradas com padrinhos, parentes, colegas e convidados.. Mas aquilo que ele me dera, era só meu e sabia que ele fora alí me dar o SEU presente!
Engraçado... estava me unindo a outra pessoa, mas era Eu alí naquele instante, única e revelada em Branco e Preto... do jeitinho que sonhava e me perpetuei através de dois pares de olhos!

Essa peça não faz parte da Ópera Carmen A Habanera
Vi em site e gostei 

Revelada em Branco & Preto


Eu estava mais para CARMEN. Queria VERMELHO, bem sensual, mas meus pais não permitiram. Então negociei: Visto BRANCO, desde que me deixem desenhar o vestido. Eu gostava de rabiscar figurinos e fora eu quem esboçara a maioria dos vestidos de formatura de minhas colegas!
Não sabia ao certo ainda, mas tinha pretenções a buscar. Não queria nada do que se  usava na época. Estávamos em 77, e para falar a verdade, não gosto muito de modismos. Não queria mangas bufantes, carreira de botões, rendas, bordados, vidrilhos, nada disso!
Na época estava na moda vestidos à La Juliette du Roméo, bem estilo princesinha, marcados logo abaixo dos seios, bordados no decote e soltos. Não queria aquilo também! Já que não podia ser "Carmen", que tal uma uma Bela Adormecida? Hunn!..... Também não! Mini- Saia? Não era tão rebelde assim... Então decidi que queria voar... Completava 21 anos naquele dia estava para me tornar senhora do meu nariz e ao mesmo tempo me entregando num enorme dilema, estava me casando e ainda por cima no meu Aniversário. Praga do meu Pai! Ele dizia, Filha minha só sai de casa após os 21 anos e de preferência CASADA!
Meu dentista também dizia: "Mulher até aos 22 anos é procurada, depois começa a procurar!
Aquilo me fazia sentir um misto de raiva e desprezo pelas idéias por ele apregoadas! 
E eu dizia para mim mesma: Nunca me casarei... Nunca! Eu já trabalhava há mais de dois anos em uma Agência de Publicidade! Queria a independência, a aventura, estudar, viajar e lá estava Eu no dia do Meu aniversário, entrando na Igreja.
Havia marcado para Quarta-Feira, às 19:00h, que era para não ir muita gente... Muitas colegas e muitos familiares.
Mas havia algo de importante que esquecera: eu transitava livremente entre as "Caxionas" e as "Revolucionárias" que ficavam cativas nas carteiras de trás.
Fazia cenários para apresentar as obras de autores famosos. Nunca me esqueci de "Espumas Flutuantes" de Castro Alves, ou "A vida em Flor de Dona Beija". Fazia os "Panos de fundo" e ainda atuava.
Pois então? Estavam todas lá, até a mais irredutível de todas que lembro bem se aproximou e disse com um leve sorriso maroto: Vim ver para Crer! A Igreja estava lotada. Eu morta de cansada, ali, a caminho do altar e escutava entre os acordes que ressoavam, a voz do meu pai que afirmava: Só sai Casada!... Meu pai está muito feliz pensei, mas, de repente ele se vira para mim, parecendo um ventríloco e fala: "Se desejar retornar ainda dá tempo, não se apresse!! Se quiser desitir, ou não for realmente seu desejo... Dê um passo para tras!"
Eu me assustei e olhei com uma nesgada d´olhos ou melhor com um rabo de olho, para ninguém perceber e me aventurei numa boca rasgada para a sua direção, apertei sua mão e murmurei: Quieto!
Fui em direção ao altar, mas o padre que havia me batizado, não ligou muito, e me casou em 15 minutos... Decoração, aquele trabalho todo para durar 15 minutos. Creio que foi a cerimônia que deixou os convivas mais felizes e descansados. Poucos dias antes o Presbítero havia me perguntado se eu era católica fervorosa, e praticante, e eu olhando-o fixamente nos olhos disparei: Não! Não sou! Não vou a igreja todos os domingos e me comungo raramente!
Foi a gota d'água para que ele fizesse aquela truculência. Já estou acostumada a sofrer retaliações por dizer a verdade!
Acabada a cerimônia, eu e meu noivo, nos beijamos e viramos para os convidados... A igreja estava lotada.
Muitos jovens e amigos além de toda a parentada! Todos me olhavam e eu pensava... Será que é real mesmo?
O som dos pianos misturavam-se com o tititi dos presentes e eu seguia como se estivesse em outra dimensão a passos lentos em direção a saída!
Chegando a porta todos vieram me dar os parabéns demonstrando carinho e afeto e algumas pontadas visíveis de inveja!
Estávamos no final dos anos 70, vivendo sob intensa pressão política e idéias fervilhantes... Vi um ex-namorado com cara de desolado do lado esquerdo e do outro, não posso dizer namorado, mas que reprensentava algo para mim e vinha ao meu encontro com sua máquina fotográfica.... Nos entreolhamos e eu sai para o jardim correndo e dançando totalmente descontraída e me sentindo solta e livre...!!
Estava realmente voando! Meu vestido era uma espécie de vassoura ou pó de Pirlim Pim Pim.
Nunca mais vi o fotógrafo, nem o paquera, que gentilmente mandou que me entregassem as fotos!
Lógico que tenho tudo, todas as fotos que foram tiradas com padrinhos, parentes, colegas e convidados.. Mas aquilo que ele me dera, era só meu e sabia que ele fora alí me dar o SEU presente!
Engraçado... estava me unindo a outra pessoa, mas era Eu alí naquele instante, única e revelada em Branco e Preto... do jeitinho que sonhava e me perpetuei através de dois pares de olhos!

Essa peça não faz parte da Ópera Carmen A Habanera
Vi em site e gostei