14 de maio de 2016

A Bandeja e o Jogo do Bicho e o Glamour

O Título poderia ter sido: A Bandeja, o Glamour e o Beliscão ou O Glamour na Liberdade.
A bandeja e o pires. Minha avó fazia questão dos dois. Se alguém fosse à nossa casa, ou simplesmente à porta por um copo d'água, deveria ser atendido com um pires abaixo não só da xícara, mas abaixo do copo. Deselegante, desrespeitoso tocar no copo que era para outra pessoa. Para mais de uma pessoa usa-se bandejas. Xícaras e copos com pires embaixo. Minha avó paterna tinha paninhos de linho com crochés, bordados e outros caprichos.
"Caprichos" era Glamour, ou ainda são.
Livros na cabeça e alguns poucos beliscões. Prazeres e pequenas torturas. Lembro-me de um beliscão apenas, mas que ficou gravado na memória. Abri sua gaveta de paninhos, de rendas francesas, com folhas de Patchouli entre brancos lençóis de Percal. Sempre arrumada, tudo colocado ordenadamente como se fosse um tesouro particular, não era permitida a façanha sem a supervisão de minha avó Alice.
Respeito ao Charme, ao sonhos de camisolas e Boa Sorte.
Alice cozinhava divinamente, passava as camisas e as cuecas de tricoline do meu avô e fazia alguns serviços da casa.
Ela se preocupava com os mínimos detalhes, porém reservava para si um mundo de maravilhas em recompensa ao esforço cotidiano.
As vezes ela sonhava com bichos. Adorava gatos pretos e quando aparecia algum ela amarrava laçarotes vermelhos ao pescoço. Os gatos que ficavam por alguns dias pareciam não se importar desde que, o leite e restos de carne fossem colocados à disposição.
Morávamos em apartamento e não era conveniente a adoção de animais. Criada desde a infância em grandes áreas rurais Alice se apegava facilmente aos bichos. Porém, assinava uma revista intitulada "Vida Doméstica".
Ela sonhava com animais e pedia para alguém jogar no Bicho.
Jogar no Bicho era uma prática que espalhava dinheiro principalmente nos morros.
Contravenção que quase todos praticavam sem culpas maiores a não ser o incômodo de estar cara a cara com a infração.
Engraçado pensar sobre como a Hipocrisia Constitucionalizada e Legalizada pode interferir de forma grotesca e facínora nos destinos dos brasileiros.
Não estou defendendo o Jogo, mas trocaram o que nasceu nas comunidades sem discussão de mérito ou validade, por organismos que praticam fraudes dentro das leis. Estatizaram a contravenção e jogaram o "Ópio" no povo. Não vou autenticar a privatização das instituições, nem endossar a máfia do saque.
A liderança dos morros usava terno de linho branco sapato bicolor, chapéu e gravata.
Produziam Cartolas, Pixinguinhas, Dongas, João da Baiana e outros...
Pós Áurea, eram os arautos da Liberdade. O Glamour na Liberdade...


  Pelo Telefone - Donga

O chefe da folia
Pelo telefone manda me avisar
Que com alegria
Não se questione para se brincar

Ai, ai, ai
É deixar mágoas pra trás, ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás

Tomara que tu apanhe
Pra não tornar fazer isso
Tirar amores dos outros
Depois fazer teu feitiço

Ai, se a rolinha, sinhô, sinhô
Se embaraçou, sinhô, sinhô
É que a avezinha, sinhô, sinhô
Nunca sambou, sinhô, sinhô
Porque este samba, sinhô, sinhô
De arrepiar, sinhô, sinhô
Põe perna bamba, sinhô, sinhô
Mas faz gozar, sinhô, sinhô

O peru me disse
Se o morcego visse
Não fazer tolice
Que eu então saísse
Dessa esquisitice
De disse-não-disse

Ah! ah! ah!
Aí está o canto ideal, triunfal
Ai, ai, ai
Viva o nosso carnaval sem rival

Se quem tira o amor dos outros
Por deus fosse castigado
O mundo estava vazio
E o inferno habitado

Queres ou não, sinhô, sinhô
Vir pro cordão, sinhô, sinhô
É ser folião, sinhô, sinhô
De coração, sinhô, sinhô
Porque este samba, sinhô, sinhô
De arrepiar, sinhô, sinhô
Põe perna bamba, sinhô, sinhô
Mas faz gozar, sinhô, sinhô

Quem for bom de gosto
Mostre-se disposto
Não procure encosto
Tenha o riso posto
Faça alegre o rosto
Nada de desgosto

Ai, ai, ai
Dança o samba
Com calor, meu amor
Ai, ai, ai
Pois quem dança
Não tem dor nem calor

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