12 de abril de 2015

Borboletas e Águas Limpas

Borboletas e Águas Limpas
Ana dorme na hora dos insetos e acorda com os gorjeios dos pássaros.
Suas noites são longas e proveitosas.
Fecha as portas ao entardecer e escancara as janelas ao amanhecer.
Ana separa o vestuário, se prepara enquanto a lua de vidro surge na claraboia.
Ela possui o céu por cenário enquanto se banha.
Gosta das buchas vegetais e as mantém sempre secas e limpas para não se tornarem abrigo de oportunistas.
Seu corpo merece essa precaução por incumbência.
Uma gentileza que agradece os percursos do dia.
Faz anos que Ana se dedica a esse ritual de aprestos.
Acredita que o dia acontece separado. Um de cada vez...
Aprendeu que o tempo é precioso e que os sonhos alforriam as mágoas.
São suas certezas e convicções.
Uma crença, um culto que preserva nutre e salvaguarda. Um aconchego que acaricia e acolhe. Um privilégio e uma proteção.
Descobrira que a solitude traz benefícios e prazeres particulares que só a serenidade elucida.
Mas aquele era um anoitecer sem vento, sem sopro e sem velas. Incomodava mais que outros dias...
Ana estava desassossegada. Não era comum aquela sensação que não a importunava há meses.
Abriu o armário e escolheu baunilha para perfumar o aposento.
Encheu sua banheira com temperatura mais amena que de costume. Não queria se aquecer mais que o necessário. Cálido era mais que o suficiente. Têmpera então.
Despiu-se com calma e deitou seu corpo na banheira.
Pensou em como era boa essa sensação e quanto bem estar lhe trazia... Queria esquecer a inquietude que lhe tirava o silêncio da alma.
Era uma hora de relaxamento e languidez e não queria pensar sobre o que a estava afligindo.
Entregou-se mais desnuda que de rotina, acreditando que a transparência lhe traria a compreensão e nitidez do sentimento que a importunava.
Nesse dia, ela se deixou afagar pelas águas mornas e foi levada pela calmaria para um momento omitido de sua mente.
Se transportou para horizontes longínquos até que fixou olhar em uma imagem que vinha ao seu encontro. Era Psiquê... A moça chega perto de Ana, Quase uma mirada de espelho e começa a falar... Quase um choramimgo... Relata sua sina neste mundo. Disse não gostar de ninguém, e nenhum de seus admiradores tornara-se seu pretendente. Que foi levada ao alto de um rochedo e deixada à própria sorte, até adormecer e ser conduzida pelo vento a um palácio magnifico. Lá, ela ouviu uma voz suave que a chamava... Caminhou na direção do som e entregou-se ao Amor. Vivenciou o Amor, só não conheceu a sua face. Precisa reconquistar o Amor que perdeu porque ela invadira sua privacidade. Hoje ela, Psiquê caminha noite e dia, sem repouso nem alimentação. Disse também que ela, era sua redenção, pois Ana vivia com o Amor sem desejar possuí-lo. Psique então, num último anseio pede um pouco de água limpa da nascente. Ana percebe as asas de Psiquê murchando... E Ana chora lágrimas cristalinas que Psiquê apara com as mãos, mas a água se torna viva e queima as mãos de Pisiquê. Psique chora...E Ana chora o choro de Pisiquê. Ana acorda e passa as costas da mão no rosto molhado por lágrimas sinceras e condolentes.
Sai do conforto de águas, enxuga o corpo, veste roupa de dormir enquanto expurga emoções e devaneios.
Findo o dia ela conclui: O amor não sobrevive sem confiança! Ora à Vida agradecendo a sorte e as dádivas que lhe foram concedidas.
E a Paz gentilmente se faz presente para mais uma noite e um fiel amanhecer...

Um comentário:

Sonia Salim disse...

É verdade, Maria Tereza, a confiança é a base, o alicerce do amor.

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