30 de maio de 2015

Além do Horizonte

Eu nasci privilegiada.
Na minha casa tinha uma radiola RCA Victor e uma TV.
Me lembro do meu avô sentado ao chão ouvindo as notícias do Golpe de 64. Não demonstrava simpatia. Só sei que depois disso podíamos escutar o hino Nacional sentados, ou fazendo outras atividades, o que antes era definitivamente proibido. Só em pé e com o olhar no horizonte ou acima do horizonte. Ele colocava a hora do Brasil todos os dias.
Meu pai tinha um rádio potente, com antenas cheias de arames e Bombril.Pegava o Japão e a BBC de Londres. Era a maior parte do lazer do meu Pai a tal BBC.Captava rádio amadores.
Ele vivia sonhando além mar.
Me lembro quando vieram buscar nossos pequenos tesouros. Eu dei uma correntinha: Ouro para o Bem do Brasil.
Me lembro que iam nas escolas com propostas de concursos para dissertarmos sobre a Bíblia e sobre os direitos de ocupação.
Eu escrevia, frequentava o catequismo. Adorava participar e me desdobrava em afazeres para contribuir com os espaços que decidia participar, investir.
Eu era solícita e amável., Mas não deixava de questionar o que me parecia falso ou incerto.
Certas coisas eram sagradas. Como eu via Deus? Não me lembro. Como eu sentia o Divino? Não sei.
Ser ou não ser? Eis a questão! Eu escuto o Hino Nacional de pé e com semblante altivo. Era a lição que meu avô queria deixar. A Liberdade de escolha é a premissa.
Só entendo agora que sempre rejeitamos o humano em nós e se deixar enganar é questão de sobrevivência hoje. Ou era antes? A inocência era a blindagem para que continuássemos fazendo.
Quando a gente percebe a mentira, é porque ela não é mais uma mentira, é um fato.
Quando você sabe que alguém mentiu, é porque ele não sabe mentir. É o que é e pronto!
Quando reconhece que vive uma mentira, você não é um "Enganado" Você é o cúmplice mantenedor da mentira.
Somos todos parceiros e sobreviventes nessa jornada. Conscientes ou não, acordados ou de acordo!


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